
Desenvolvido no período entre 2018 e 2019, o “Mapa Vivo – O Centro Histórico segundo seus moradores” foi uma demanda dxs moradorxs das ocupações do Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB) no Centro Histórico de Salvador, tendo como objetivo evidenciar a luta cotidiana dxs moradorxs do CHS, a qual não é retratada nos mapas tradicionais, em que prevalecem informações como rotas turísticas, com enfoque na arquitetura colonial e nos cartões postais da região.
Para expressar a realidade da população do Centro Histórico de Salvador (CHS) lançamos mão da cartografia social, método que trabalha de forma crítica e participativa com a caracterização, dentre outros exemplos, de territórios de grande interesse econômico e cultural, a partir da percepção dxs próprixs moradorxs sobre o território onde vivem. O antropólogo Alfredo Wagner de Almeida (2013, p.167) define a cartografia social como uma“cartografia crítica, desnaturalizada, capaz de se contrapor simultaneamente ao positivismo e ao papel de direção absoluta e autoritária das forças políticas hegemônicas no processo de produção cartográfica".
Ao falarem sobre si mesmxs e seus territórios, xs moradorxs que fizeram o Mapa Vivo des-silenciam suas vozes, que a gentrificação procura apagar, e se re-colocam no centro da discussão política sobre o futuro de seus territórios. Esta é, precisamente, a relevância política e social deste tipo de cartografia:
"Com esta abordagem os mapas passam de uma construção privada, circunscrita a especialistas, para uma construção de sentido público ou aberta a um público amplo e difuso. Nesta brecha na conhecida oposição binária, público/privado, é que se posicionam aqueles que estão à margem da cena política legítima, passando a ter papel relevante nos mapeamentos sociais, recolocando-se, enquanto força social nas relações de poder." (ALMEIDA, 2013, p.60-61)
o processo
O TRABALHO CONTOU COM AS SEGUINTES ETAPAS:
1- Familiarização da equipe de extensão e dxs moradorxs com a cartografia social;
2- Rodas de conversa com moradorxs;

3- Visita às ocupações;
4- Entrevistas em profundidade com interlocutorxs das rodas de conversa com narrativa de histórias de vida e caminhada pelos locais onde já moraram no CHS;
5- Sintetização das narrativas em cenas do cotidiano;
6- Execução da parte gráfica do mapa realizada pelo estudante de Arquitetura Bruno Fernandes.

Todas as etapas contaram com a participação ativa dxs moradorxs, que definiram desde o título do trabalho, até quais cenas seriam colocadas no mapa, com suas respectivas legendas e posições. O trabalho foi executado de forma não linear, passando sempre por revisões e alterações, conforme a necessidade identificada tanto pela equipe quanto pelos moradorxs.
Como o próprio nome sugere, o Mapa Vivo é composto de vida, de gente, de movimento, mostrando uma face do Centro Histórico de Salvador que vai além dos casarões coloridos e cenários icônicos, tornando visível a realidade das pessoas que ocupam o território de maneira singular.
O Mapa Vivo é um instrumento de luta que se encontra disponível em forma física nas sedes de organizações populares como o MSTB e Associação de Amigos e Moradores do Centro Histórico (AMACH). Agora, transformamos o mapa para uma versão digital, colocando ele à disposição de outros movimentos e atores comprometidos com a transformação do CHS e socializando seu processo de produção. Assim, em sua versão virtual ele agrega a possibilidade de trazermos outros registros além do textual e, também, de destrinchá-los em temáticas, então temos o MAPA VIVO (geral) e cinco submapas agregados de elementos multimídia: TURISMO, VIOLÊNCIA, TRABALHO, COTIDIANO e OCUPAÇÕES.